Estradão vermeio empedrado
barranco arto nos dois lado
até dobrá o espigão.
Na direita de quem sobe
tem uma capelinha pobre
e uma cruz fincada no chão.
Tem uma cipoada florida,
uma imagem descolorida
de uma virgem milagrosa.
Tudo isso representa
uma história triste e sangrenta
e uma cena dolorosa.
Dizem que Margarida,
muié bunita e atrevida,
parecia mesmo uma flô.
Zombava da rapaziada,
pois todos a cortejava
pra mordê do seu amô.
No meio da rapaziada
um que de fato lhe amava
sonhava com Margarida.
E no sonho ele e ela
numa casinha singela
toda enfeitada e florida.
Aconteceu certo dia
o que Leoné mais queria
a mió das ocasião.
Margarida tão viçosa,
sorridente, toda prosa
na barraca de quentão.
Leoné já de alma inquieta
também estava na festa
e dos outro se apartô.
Eu vou me enche de quentão
pra encorajá meu coração
e falá com meu amô.
E se enchendo da bebida
oiando pra Margarida
foi desfiando essa prosa:
Eu gosto tanto do cê
mas nunca pude dizê
devido a minha nervosa.
Margarida assim que ouviu
oiô pra ele e se riu:
Credo em cruz discunjurado
não quero nada co cê
pode pará de bebe
que cê já tá embriagado.
Quesse desprezo no peito
se afastou meio sem jeito
metro e meio da barraca
tremendo co a mão na cintura
alvejando a criatura
em meio ao fogo e fumaça.
Dispoi dessa confusão
rumó lá pro estradão
gritando em desatino.
Dizendo amá Margarida
botô fim na sua vida
selando o seus dois destino.
E lá no fim da subida
a capela construída
onde Leoné se matô
parece uma casinha florida
como ele sonhô em vida
pra morá com seu amô.
RELATOS PORTENHOS / LATINOS (140)
Há 10 horas
2 comentários:
Genial!
adorei o estilo contemplativo das primeiras estrofes. é de uma riqueza incrível de vocabulário, numa simplicidade gramatical harmoniosamente sincronizada ao tema rural a que se propõe. é realmente excelente com as paisagens!fiquei miúda ao imaginar "barranco arto dos dois lado".
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